O meu PORTO de abrigo!

Apresento-vos a minha casa. Não, não é a janela do piso 3 da casa amarela à esquerda. É mesmo tudo aquilo que vocês vêm à vossa frente (o rio, as casas, os monumentos, as ruas, as àrvores, as pessoas). Tudo isso é a minha casa, o meu lar, o meu Porto de abrigo! O Porto é a minha casa e também a de todos aqueles que por aqui passam (corrijam-me se estiver a dizer alguma mentira). Sempre que alguém visita esta cidade, deixa um bocadinho dele cá e leva um bocadinho de nós consigo.

Foi esta a cidade que ouviu os meus primeiros estridentes e longos berros às minhas primeiras horas de vida (sim quando nasci era um bebé barulhento, para além de naturalmente gordo está claro). Foi esta a cidade que me deu a conhecer o mundo, as pessoas, as tradições, as frustrações e as vitórias.
Foram estas as ruas em que cresci e em que aprendi a ser o que sou hoje enquanto profissional e acima de tudo enquanto ser humano. Não existe melhor sítio para aprender a ser melhor humano do que na cidade ivicta. 

Aqui aprendi a lidar com os erros e as frustrações desde cedo, nas íngremes e sinuosas ruas do Porto, com a minha parceira a bicicleta (nunca fui um bom ciclista e as minhas bicicletas sofreram bastante nas minhas mãos, acho que mais do que eu sofri com elas!).

Estas ruas deram-me carácter, destreza e coragem, porque é preciso tê-las quando atravessamos, por exemplo, uma destas ruas mais estreitas durante a noite e nos deparamos com um grupo de jovens que geralmente não estão à espera que as suas mães os chamem para jantar...

Esta cidade tornou-me também num ser resistente e resiliente. Resistente porquê? Quero ver quantos de voçês são capazes de "fazer praia" aqui no Porto, onde geralmente no Verão não existem brisas mas sim nortadas, nem existe àgua morninha, mas sim gélida. A Resiliência surge pelo simple facto de termos de lutar contra os inúmeros obstáculos que ao longo das nossas vidas temos de ultrapassar se vivemos no Porto (o bulling, as dificuldades financeiras, a discriminação, a falta de emprego e a luta pelo mesmo).

Foi aqui que me tornei também num "faz-tudo", porque devido à necessidade e ao orçamento limitado, tive de ganhar a capacidade de saber arranjar uma torneira em casa, saber mexer num cilindro quando avaria, ou saber como funciona um sistema eléctrico em casa quando queima um fusível, ou até saber fazer cimento para tapar as fendas nas paredes ou simplesmente para construir de raiz uma lareira (aqui as lareiras fazem muita falta). Aqui perdemos o medo de trabalhar e ganhamos o gosto e o ogulho em arregaçar as mangas e fazer as coisas nós mesmos.

Foi nesta cidade que aprendi a ser responsável, pontual, educado e acima de tudo simpático. A responsabilidade veio pela necessidade de ir sozinho da escola até casa desde os meus 11 anos de idade, porque os pais trabalhavam até tarde e não havia mais ninguém que me fosse buscar ou levar. A pontualidade surgiu pela dificuldade em conseguir entrar num transporte público em hora de ponta e querer chegar a horas aos locais e ter de sair mais cedo de casa para chegar sempre a horas. Por fim, a educação e a simpatia vieram pela forma como os portuenses vivem e convivem naturalmente. Aqui todos são brutalmente sinceros, directos e práticos. 

Não existe constrangimento nenhum em falar seja com quem for e dizer aquilo que está à vista, se és gordo chamam-te Gordo, se és Magro chamam-te Olivia Palito, mas se precisas de ajuda, estendem-te a mão e nunca te viram a cara. E por favor, digam lá se o Povo do Porto não é o mais simpático que vocês alguma vez conheceram?! Aqui todos se ajudam uns aos outros, sejam familiares, amigos ou simples vizinhos. Ninguém foge quando surge uma complicação, pelo contrário, todos estão prontos e disponíveis a ajudar.

Esta é a cidade que me tornou mais forte, mais vivo, mais humano. Se me dessem a escolher ir viver para um local qualquer do mundo, sem pestanejar diria que queria viver no Porto. O meu Porto! É aqui que crescem os verdadeiros homens e mulheres deste País (desculpem-me os restantes habitantes, mas é apenas a minha opinião). Nós somos o motor, o coração e o cérebro deste País.

Um povo que até mesmo na depressão, recessão e solidão, é capaz de colorir um pouco mais a vida, tal e qual as nossas casas (podem ser velhinhas, pequeninas e com um ar desgastado, mas são também coloridas, recheadas de amor, vida e história).
Quem mais está a pensar em mudar-se para cá?


Um abraço,

O Gordo.

O Gordo tem nome

3 comentários:

  1. Acho que o teu texto traduz o sentimento de todos os Portuenses! Orgulho em ser tripeiro, em ser natural desta linda cidade e sendo brutalmente sincero (e peço também desculpa pelos habitantes das restantes cidades) cidade mais bonita de Portugal é o Porto! É que nem questionem isto!

    Abraço,

    Ricardo
    www.opinguimsemasas.blogspot.pt

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  2. Que lindo esse tipo de texto! Sinto falta de mais blogs que ainda sejam usados com o propósito primeiro deles, de ser uma espécie de diário virtual e falar sobre as coisas da vida, com simplicidade. Ultimamente anda tudo muito comercial.
    Gostei mto!

    www.vivendovivi.blogspot.com.br

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