Qual o preço da vida humana?

Recentemente assisti a um programa na Sic Notícias (60 Minutos) que me deixou absolutamente transtornado. A história passou-se nos Estados Unidos da América (onde mais poderia ser...), o tema era "30 anos no corredor da morte".

Glenn Ford, o motivo desta história, era um comum norte-americado. Este jardineiro de profissão viu a sua via ser absolutamente destruída simplesmente porque esteve no sítio errado à hora errada. Mas o principal motivo que influenciou a sua detenção, foi o facto de ser negro e não caucasiano. Sim é verdade.

Este homem, como muitos outros, foi injustamente acusado de um crime de homicídio, crime esse que nunca teve provas reais ou argumentos fortes para que o conseguissem condenar, apenas teve uma sucessão de acontecimentos premeditados para que o mesmo fosse considerado culpado e tivesse de ficar 30 anos na cadeia com uma pena de morte, até que se descobrisse a verdade.

Glenn foi atirado para as mãos de um procurador ambisioso, sem carácter, narcisista e arrogante (palavras ditas pelo mesmo). Este procurador conseguiu, através de várias artimanhas, fazer de Glenn o culpado do seu primeiro caso de acusação à pena de morte. Glenn Ford, foi vítima de uma série de "arranjinhos" por parte deste mesmo procurador (Marty Stroud), para que fosse nitidamente declarado culpado, com ou sem provas. Uma das coisas mais marcantes que este procurador conseguiu fazer, foi o de não ter nenhum Afro-Americano nas cadeiras dos Jurados; outra foi ter arranjado 2 advogados de defesa para Glenn sem qualquer prática neste tipo de julgamos e quase inexperientes na sua profissão, para que fossem incapazes de contestar a acusação e de conseguir tirar Glenn da cela que já o esperava.

Por esta altura já estaria absbílico com aquilo que estava a ver, especialmente com o ar do procurador e do advogado. "Como é que alguém consegue acusar uma pessoa de um crime tão grave, sem sequer ter provas concretas do mesmo? Como é que alguém tem o sangue frio de pôr um homem na cadeia com pena de morte, sabendo que ele não é o culpado do crime a que está a ser acusado?"

Mas enquando ainda me questiono, o mesmo estado altera-se para o choque total. Chegou a parte em que é o próprio Advogado (Dale Cox), responsável pela libertação do Srº Ford (ao fim de 30 anos), responde a uma pergunta natural feita pelo jornalista (também ele afro-americano): "O Senhor Ford teve justiça neste caso?", ao que responde com um tom frio, despreocupado, arrogante e vergonhoso: "Sim, teve uma justiça com algum atraso.". Este mesmo Advogado, achou que foi feita justiça com a simples libertação de Glenn Ford, após 30 anos preso incocentemente, numa sela com uns míseres dois metros quadrados, sem o mínimo de condições. Na opinião deste advogado, Glenn Ford não merecia a indemnização a que teria direito (cerca de 11.000$ por cada ano em que esteve preso), dinheiro esse que o mesmo fez questão de afirmar que caso o recebesse seria para dar aos seus 10 netos, que se viram privados do avô e que ajudaria a não passarem pelo mesmo que ele passou, a terem uma vida mais digna.

Glenn Ford, saiu da cadeia após estes 30 anos de calvário, com 20$ de indemnização pelos danos causados pela Justiça Americana. Sim, foram 20$, que o mesmo usou para almoçar nesse mesmo dia, ficando com 4$ de troco para viver o resto do tempo que lhe restava. A primeira coisa que fez quando saiu da cadeia foi tirar uma foto, com um arco-íris como fundo. A natureza não deixa de nos surpreender sempre. Infelizmente, Glenn Ford após estes anos todos, lutou a sua maior batalha fora das grades. Descobriu que sofria de um cancro pulmunar em estado muito avançado e viveu as suas últimas semanas de vida com ajudas e caridade. O mesmo ainda teve a oportunidade de falar e dar o seu testemunho. As suas palavras, a sua quase irreconhecível imagem e o seu olhar profundamente triste, foram completamente marcantes nesta entrevista.
A justiça tem muito que se lhe diga, especialmente nos Estados Unidos. E quando se faz parte de uma minoria, parece que as probabilidades estão sempre contra eles. Imagine-se que no Estado do Luisiana, local onde viveu este homem, a grande maioria da população é caucasiana, mas expantem-se que cerca de 77% dos reclusos são de raça negra, corioso não acham?

Num País que é visto como um "melting pot" de etnias e até onde é considerado o local das grandes oportunidades e da realização dos sonhos, para as minorias parece que é mais um espaço a evitar. 

A história deste homem faz-me agora pensar em quantos outros estarão nas mesmas condições nos dias de hoje e que nunca terão a possibilidade de sair em liberdade?! Será este o preço de uma vida humana? O que teria acontecido se ao invés de Glenn Ford, tivesse sido detido o Promotor ou o Advogado deste homem? A "justiça" seria a mesma?


Um abraço,

O Gordo.

O Gordo tem nome

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